Pesquisa aposta em rastreabilidade, selo vegano e organização para agregar valor à cadeia produtiva do açaí, com segurança alimentar e oportunidade de negócios.
O paraense nascido e criado no Pará é conhecedor do açaí. Desde o ponto certo para colher e extrair a polpa do açaí; em quanto tempo, após batido, deve ser consumido; até a forma de guardar o vinho e a maneira de comercializar o produto. “Mas, quem não nasceu aqui no Estado desconhece essas características organolépticas apuradas. Então, a gente precisa conseguir definir os terroir porque isso agrega um valor enorme no produto que está sendo comercializado para fora da nossa casa”, explicou o pesquisador Artur Silva, Diretor Científico da BioTec-Amazônia.
O estudo do sequenciamento genético do açaí é realizado pelo Laboratório de Engenharia Biológica, instalado no Parque de Ciência e Tecnologia – PCT Guamá, e que faz parte do grupo de laboratórios da Universidade Federal do Pará – UFPA que dão suporte à BioTec-Amazônia para ações estratégicas de coordenação e elaboração de pesquisas com recursos do Governo do Estado. Para isso, algumas etapas precisam ser cumpridas, após a conclusão do sequenciamento do Genoma do Açaí.
A primeira é implementar um selo vegano ao produto. “Nós, da BioTec-Amazônia, somos uma certificadora para produção de selo vegano. Então, nós podemos emitir um selo, inclusive na língua inglesa. E podemos usar duas marcas fortes: o selo vegano e a Amazônia”. Para além do selo, a segunda etapa é o controle de qualidade dessa produção local. “Nós podemos tirar, de maneira imediata do Genoma do Açaí, justamente o controle de qualidade em relação à pureza. Nós somos capazes de te dizer se dentro de um determinado suco eu tenho 100% de açaí ou eu tenho outras misturas”, reforçou.
Barcarena – Para viabilizar as próximas etapas foi que ocorreu uma primeira reunião, no último dia 7 de julho de 2021, na sede da Organização Social BioTec-Amazônia, com Edson Anilo Cardoso, titular da Secretaria Municipal de Agricultura (Semagri), de Barcarena, município pertencente a mesorregião Metropolitana de Belém. O encontro busca uma aliança com um município pioneiro na utilização dos dados do projeto e fortalecer a avaliação do cenário municipal para aplicação dessas duas etapas da pesquisa na produção local do açaí.
Edson Cardoso, durante o encontro, destacou as características presentes na produção do açaí no município de Barcarena. “Hoje, tradicionalmente, nós temos a cadeia produtiva do açaí no nosso município. Mas, nós também temos outras cadeias produtivas que podem ser fomentadas. Hoje nós temos muito a ideia do produto in natura. O que nós estamos tentando avançar é nessa potencialização de cadeia produtiva, de forma consorciada, onde eu não trabalhe só com a monocultura, mas que eu trabalhe junto com outras cadeias que podem gerar renda o ano todo ou em ciclos continuados”. Entre as cadeias produtivas destacadas por Cardoso, estão o açaí, o cacau e a banana, mas, também, a criação de peixes e aves, que podem ser inclusive utilizadas na merenda escolar do município.
Para o Edson Cardoso, o projeto tratado pela BioTec-Amazônia traz uma ressignificação ao produto açaí. “Ele não vai mais ser só um entendimento do açaí extrativista, mas o entendimento do açaí que pode ser gerador de oportunidades, gerador de renda, dentro de uma cadeia produtiva verticalizada, industrializada, com produtos acabados com selo, tanto de qualidade como selo de pureza e de melhor reconhecimento do paladar e da estrutura do açaí”, finalizou.
Após a reunião de trabalho com a Secretaria Municipal de Agricultura (Semagri), de Barcarena, a BioTec-Amazônia também reuniu, nesta terça-feira,13, com a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), em busca de firmar parceria por meio de Acordo de Cooperação. Os objetivos principais são implementar a rastreabilidade de ponta a ponta na cadeia produtiva do açaí, bem como, estabelecer padrões de qualidade para os batedores e agroindústria do açaí.
Genoma – O estudo do genoma do açaí vai trazer informações, até então, desconhecidas de uma fruta tão importante para Amazônia e para o mundo. Apesar da genômica e do DNA serem associados à alta tecnologia, são eles que vão permitir a leitura do aproveitamento genético e biotecnológico do organismo. A pesquisa será realizada a partir do DNA da célula, encontrada no fruto do açaí. Artur esclarece que o genoma é que nem um relógio e, dentro dele, possuem 35 mil genes. “A pesquisa quer saber quais são eles. Vão ficar vários pedacinhos do DNA, bilhões de pedacinhos. A decodificação destes fragmentos a gente chama de sequenciamento”.
Após um processo químico, é separado o DNA do núcleo da célula. “É quando vamos botar os pedaços todos dentro de um robô. A máquina de sequenciar vai ler cada um: o que tem adenina, citosina, etc. Depois o computador vai pegar essas leituras todas e vai ver as quatro bases, e onde elas estão: timina (T), guanina (G), citosina (C) e adenina (A) que são encontradas no DNA”. O pesquisador explica que, terminada essa remontagem, é possível realizar a análise dos genes encontrados.
Financiamento – A Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) vinculada a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), assinou, em 2021, convênio com a Associação BioTec-Amazônia, para execução do projeto Genoma do Açaí. Uma das missões da pesquisa “Genoma do Açaí”, uma iniciativa do Governo do Pará, sob a coordenação da organização social BioTec-Amazônia, é ampliar a capacidade de produção e garantir a sustentabilidade do fruto.