Iwasa’i – Centro Avançado de Pesquisa e Inovação Biotecnológica da Amazônia Oriental é lançado em Belém (PA)

Publicado em: 17/03/2025
Autor: Silvia Leão
Assunto: Eventos
Tempo de leitura: 4 minutos

Entrevistas: Valéria Cunha

Texto e Edição Final: Silvia de Souza Leão

Na última sexta-feira, 7 de março, ocorreu em Belém, Pará, no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá (PCT Guamá), o evento inaugural do projeto “Iwasa’i: Centro Avançado de Pesquisa e Inovação Biotecnológica da Amazônia Oriental”, pesquisa aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq/MCTI/FNDCT 19/2024 (Pró-Amazônia), sob coordenação do Professor Artur Luiz da Costa da Silva, do Laboratório de Engenharia Biológica (EngBio – UFPA).

A exposição sobre o projeto foi realizada no Laboratório de Engenharia Biológica (ENGBIO). Em sua fala, o coordenador Artur Luiz da Costa da Silva destacou que “O Centro ocupa um espaço que ainda não existia na região, trazendo tecnologias de ponta para grupos que não possuem corpo técnico nem equipamentos necessários. O objetivo é alavancar as pesquisas, fazendo a ponte entre a ciência básica e a aplicação no mercado e na sociedade produtiva”.

O Professor Artur Silva, nos últimos cinco anos, ocupa o cargo de diretor técnico científico da Associação BioTec-Amazônia, uma instituição de ciência e tecnologia privada, e um centro de inteligência em bioeconomia que promove o uso sustentável da biodiversidade amazônica, aliando as demandas empresariais do conhecimento científico/tecnológico.

Na oportunidade, o Professor Dr. José Seixas Lourenço, que preside a Associação, mencionou o papel que a ICT privada desempenha nesse projeto. “A BioTec-Amazônia tem 9 anos e foi criada para fazer a interface entre a geração de conhecimento e a geração de patentes. A gente gera conhecimento, mas ele é apropriado a big pharm. Nós surgimos para preencher essa lacuna com um grupo chamado de Inteligência competitiva que busca identificar oportunidades de negócios e investimentos para a agregação de valor a produtos da biodiversidade amazônica, suprindo demandas do mercado”.

O Professor Lourenço explicou que o papel da BioTec-Amazônia é levar essa experiência para a Pan-Amazônia, conjunto de países que têm a floresta amazônica em seu território são eles: Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, a Guiana e o Suriname, além do Brasil. “Já são 86 universidades nos países da Pan-Amazônia interessados nesse projeto. Nós pretendemos levar essa experiência de formação de recursos humanos a esses países para reproduzir e buscar cada vez mais experiências e parcerias para desenvolver pesquisas que envolvam outros países”.

Formação de doutores e preservação da floresta

Rafael Baraúna, do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular (PPGBM) e professor da Pós-Graduação em Biotecnologia da UFPA, ressaltou a importância desse lançamento. “Nossa principal expectativa é aumentar a formação de pesquisadores investigadores na região, com acesso a equipamentos de ponta, que atualmente estão concentrados no Sul e Sudeste. Queremos formar doutores que atuem na Amazônia, criando bancos de dados sobre a biodiversidade e desenvolvendo produtos biotecnológicos sem exploração predatória da floresta”, explicou

Baraúna destacou ainda que o projeto já iniciou atividades inovadoras, como a coleta e processamento de amostras de microrganismos na Ilha do Marajó. “A biodiversidade da Ilha do Marajó é riquíssima e pouco conhecida. Estamos analisando essas amostras para identificar moléculas com potencial farmacêutico e biotecnológico. Além disso, planejamos coletas em áreas protegidas, buscando novos compostos que possam levar ao desenvolvimento de medicamentos e biofertilizantes”.

Biodiversidade, conservação e biotecnologia

Diego Assis, professor adjunto III na Universidade Federal do Pará e Membro da Comissão SISGEN da UFPA, além de colaborador do Programa de Pós Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFPA, também participou do lançamento e ressaltou o que é o projeto. “O Centro busca explorar a biodiversidade, mas com foco em conservação e valorização do patrimônio genético da Amazônia, usando biotecnologia para expressar e estudar os genes presentes nessa rica biodiversidade”.

Parceria com o CNPEM e o fortalecimento da bioeconomia

Daniela Trivella, pesquisadora-líder da Divisão de Farmacologia Molecular do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais – CNPEM, que participou do lançamento do projeto, explicou sobre o papel do CNPEM como centro de pesquisa e inovação brasileira. “O CNPEM é uma organização social comprometida com o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Trabalhamos com biotecnologia, saúde, energia renovável e agricultura. Queremos ajudar o Iwasa’i a conectar a biodiversidade amazônica com nossa infraestrutura, para o desenvolvimento de medicamentos, biofertilizantes e outros produtos de alto valor agregado”, explicou.

Ela destacou ainda o papel dos laboratórios de pesquisa e dos projetos do CNPEM. “O banco de moléculas funciona como uma ponte entre quem descobre moléculas e quem precisa delas para pesquisa e desenvolvimento. Isso garante rastreabilidade, transparência e repartição justa de benefícios, respeitando as comunidades de origem dos conhecimentos tradicionais”.

Perspectivas e impactos futuros

Além de um espaço de pesquisa, o Iwasa’i quer atuar como um polo de inovação e empreendedorismo na Amazônia, promovendo o surgimento de startups de base biotecnológica, especialmente. “O Brasil precisa desenvolver seus próprios medicamentos, valorizando nossa biodiversidade e respondendo às demandas do SUS. A Amazônia tem potencial para isso, e o Iwasa’i será um vetor dessa transformação”, conclui Daniella.

Ao final do evento, os participantes reforçaram o compromisso de transformar o Centro Avançado de Pesquisa e Inovação Biotecnológica da Amazônia Oriental (Iwasa’i). O encontro ainda contou com a participação especial do Professor Dr. Jorge Guimarães, que foi por sete anos (2015 a 2022) Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e da Professora Dra. Maria Paula, bióloga, geneticista e grande liderança científica da Amazônia e líder do Laboratório de Genômica e Biotecnologia (ICB-UFPA). Com parcerias estratégicas, como do CNPEM e da UFPA, o Iwasa’i não apenas visa descobrir novos ativos da biodiversidade amazônica, mas também fomentar o desenvolvimento de produtos biotecnológicos inovadores, como medicamentos, bioinsumos e soluções. Assim, o projeto inaugura uma nova fase para a ciência na Amazônia Oriental, posicionando uma região no centro de discussão e inovações em biotecnologia, com respeito ao meio ambiente e valorização da floresta em pé.